sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Transformar a Nossa Natureza | por Michael Berg

Nós não lemos a Torah simplesmente para ganharmos lições espirituais. Lemos a Torah para que possamos ganhar a assistência das muitas grandes almas, cujas histórias estamos estudando. Fazemos isso para que possamos nos conectar aos processos pelos quais estas grandes almas passaram, o que nos ajuda a passarmos pelos nossos próprios processos. Na porção desta semana podemos receber a ajuda da alma de Jacó, e até mesmo de Esaú, para passarmos pelo processo de transformarmos completamente a nossa natureza.
Isaac, filho de Abraão, teve dois filhos: Jacó e Esaú e sabemos que eles estavam no mesmo ventre. Na hora do nascimento, Jacó tentou segurar seu irmão Esaú, para que ele pudesse sair primeiro e ganhar o direito às bênçãos da primogenitura. No entanto, Esaú nasce primeiro, e como tal, Isaac deseja conceder-lhe as bênçãos.
Jacó passa por todo um processo de mentir e enganar seu pai para receber as bênçãos da primogenitura. Ele teve que lutar contra seu irmão, teve que lutar contra seu sogro, teve que fugir da casa de seu pai, teve que enfrentar desafio após desafio. Nos é dito que Jacó é uma alma justa e sabemos que ele era conectado com a Luz do Criador, então por que ele teve que travar batalhas constantemente... por que ele teve que superar constantemente tantas barreiras?
Curiosamente, os kabalistas ensinam que, se você olhasse para os dois irmãos e tivesse que avaliar pela fisionomia, qual era a alma mais elevada, você provavelmente escolheria Esaú. De fato, por todos os aspectos exteriores, os kabalistas ensinam que Esaú tinha uma mente mil vezes mais afiada do que a de seu irmão. Ainda assim, Jacó teve a revelação de que, para se conectar com a Luz do Criador e realizar aquilo que veio a este mundo para realizar, ele teria que lutar contra tudo o que ele era e ir contra a natureza com a qual nasceu. Jacó enfrentou desafio após desafio, porque sabia que quando lutamos contra a nossa natureza, quando nascemos de uma maneira e lutamos completamente contra esta maneira de ser para realizarmos a transformação, é aí que a Luz do Criador é revelada.
Esta é a verdadeira lição entre Jacó e Esaú. Embora Esaú estivesse disposto a fazer o trabalho espiritual, ele não estava disposto a lutar contra a sua natureza. Ele nem sequer pensou que era necessário. Não é que devamos ver Esaú como uma pessoa negativa, o fato é que Esaú pensou que, para crescer espiritualmente, bastava usar todos os poderes com os quais nasceu. Esaú honrou e respeitou seu pai, fez grandes coisas... mas só quando ele quis. Este não é o verdadeiro trabalho espiritual. O trabalho espiritual que fazemos, que está dentro da nossa natureza e que é confortável para nós, não é um verdadeiro trabalho espiritual, não revela muita Luz.
A realidade de quem Esaú era nunca foi mudada, porque o trabalho espiritual que ele realizava não ia contra todas as fibras de seu ser. Uma pessoa pode estar estudando, pode estar fazendo muitas ações de compartilhar, mas isto não significa que ela esteja cumprindo seu propósito. Muitos de nós nascemos com boas qualidades que, é claro, precisamos usar. É bom que façamos todas as outras coisas que estão dentro da nossa natureza, que sejam de compartilhar, que revelem alguma Luz. Não significa que devemos deixar de fazer essas coisas. Nós apenas temos que ter cuidado para não cometermos o erro de pensar que, simplesmente porque estamos fazendo ações positivas, isto significa que estamos realizando nosso propósito. Por exemplo, há pessoas que são naturalmente caridosas, outras cuja natureza é alcançar sabedoria e outras que nascem professores. No entanto, o fato de elas darem dinheiro, o fato de elas investirem seu tempo em alcançar sabedoria, o fato de elas investirem toda a sua energia ensinando outras pessoas, é claro, vai trazer uma certa quantidade de Luz, mas isso não significa que estejam realizando o que vieram a este mundo para realizar.
Esta compreensão certamente nos dá uma avaliação diferente de como precisamos olhar para a nossa vida espiritual. Nós percebemos, através desta porção, que a resposta não é o quanto você faz, ou mesmo o que você faz, mas o quanto você está lutando contra a sua natureza. Eu penso sobre isto para mim mesmo, e espero que todos vocês também o façam. Para avaliar onde você se encontra no processo de sua alma, no processo de revelar o propósito para o qual veio a este mundo, a pergunta tem que ser: você está transformando a natureza com a qual nasceu?
Aprendemos desta porção que viver uma boa vida espiritual não significa nada se fizermos tudo o que estiver dentro da nossa natureza. Este conceito pode realmente mudar a nossa vida, porque não mentiremos mais para nós mesmos. Isto nos dá um meio de avaliarmos onde realmente nos encontramos no processo da nossa alma. Ao perguntarmos a nós mesmos: “Qual é a minha natureza e quais ações estou fazendo que são completamente opostas a ela?”, vemos onde nosso trabalho está realmente focado.
Nesta porção, Jacó luta contra tudo o que ele é, e nesta semana, recebemos o incrível dom de conectarmos com ele e obtermos sua ajuda para travarmos nossas próprias batalhas. Fazendo isso, estaremos revelando mais e mais Luz, e cada vez mais próximos de realizarmos nosso verdadeiro propósito... e quando transformarmos nossa natureza, ilimitada Luz e bênçãos poderão fluir em nossas vidas.

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